8 de set. de 2025

Me tornei uma Healer em outro mundo - Capítulo 05

  Capítulo 5 :: Slime é algo para se caçar?

No terceiro dia, Falco saboreou um delicioso café da manhã preparado por Shou e saiu para a caçada de bom humor. Tinha olhos castanho-claros, o rosto coberto de poeira e cabelos escuros. Apesar da aparência simples, estava sempre sorridente. Parecia mais o típico irmão japonês do vizinho do que alguém de outro mundo.

— Um dia você vai entender quando chegarmos à cidade. Talvez seja porque a Floresta Profunda fica ao norte, mas lá há muitos olhos e cabelos da mesma cor que os do Leon.
— Nós dois vamos acabar chamando atenção, então? — perguntei.
— Muita gente com nossa coloração vive nas planícies. Minha mãe era caçadora e gostava de viajar. Eu nasci nas planícies. Então sim, acabo me destacando, mas nada tão incomum.
— E o seu pai...? — arrisquei.
— Ele também é das planícies. Como lá quase não há monstros, minha mãe se cansou rápido e voltou. Duzentos anos é muito tempo, sabe? É bom conviver com todo tipo de gente.
— Duzentos?! Você vai viver até os duzentos anos?
— Hm? Claro que não... Você acha que nos tornamos adultos aos vinte e temos filhos até os cento e cinquenta? Talvez eu passe um pouco disso.
— Uau...
— Pois é. Por isso homens e mulheres precisam arrumar um trabalho sério, algo que possam manter por toda a vida.
— Sim, senhor!
— Então, acho que está na hora de começar o treino com espada.
— Ei, Falco...

Eu estava prestes a protestar — já tinha dito que não queria usar espada. Mas Falco me cortou:

— Antes de tudo, você precisa derrotar pelo menos um slime, certo?

Disse aquilo com a maior naturalidade. Que absurdo!

— Eu consigo derrotar, sim.
— Foi você quem disse. Agora quero ver.

Droga... não devia ter falado isso. Shou já se arrependia. Pensando bem, fazia sentido: não adiantava treinar com espada sem ser capaz de lidar nem com um slime. Mas também não queria desperdiçar dois dias de esforço dedicado.

Depois de arrumar a cabana, peguei um balde de água, enfiei os pauzinhos no casaco de Falco e segurei um galho comprido. O punhal estava preso a uma faixa improvisada na cintura.

— Está parecendo um pescador — murmurei, rindo sozinho.

Segui em frente distraído, mas logo percebi que nem precisava procurar. Os slimes estavam espalhados por todo lado.

Chon. Espetei um deles. Fsshh. Ele espirrou ácido. Corte. Shhh. Depois de cutucá-lo duas vezes com o galho, respirei fundo, avancei e o cortei com o punhal. A massa gelatinosa perdeu a forma até se desfazer, restando apenas uma pedra mágica azul-clara.

Peguei-a com os pauzinhos e a ergui contra o sol.

— Linda...

Trocava a água do balde a cada dez pedras coletadas. Ao meio-dia já tinha trinta.

Mas que tédio. Ainda havia muitos slimes por aí.

Passei a tarde revisando os mantimentos, preparando sopa e cortando finas fatias de carne seca e pão. Ter dez anos não era ser tão pequeno assim, mas ainda faltava a destreza de um adulto. Descascar batatas e legumes levava tempo.

Ainda assim, podia cozinhar sem pressa. Lembrei-me da correria da minha vida anterior e me senti feliz por poder fazer as coisas devagar.

— Cheguei! Shou!
— Bem-vindo, Falco.

Falco sempre voltava animado. Tinha ares de jovem na casa dos vinte. Era caçador, forte. Dizia que crianças deviam ser levantadas no colo — e, sem conhecer bem este mundo para contestar, acabei aceitando.

— E então? Conseguiu derrotar um slime hoje?
— Consegui!
— Sério? Não se machucou? Levou uma poção?

Ah... tinha esquecido disso.

— Se acabar se ferindo, a poção ajuda na recuperação. Um caçador nunca deve sair sem uma.

Não que eu quisesse ser caçador... Mas era melhor não esquecer. Não queria ficar com cicatrizes.

— Veja só!

— Isso é... — os olhos de Falco se arregalaram.
— Parei depois de trinta.
— Entendo. Então conseguiu mesmo...

Falco parecia um pouco decepcionado.

— Eu poderia tirar o dia de folga quando o Leon vier, assim vejo como você caça slimes. Ei, por que está fazendo essa careta?
— É que... você parece mesmo um pescador. Não combina.
— Como seu tutor, eu tenho o direito — não, o dever — de observar.

Ele disse que era direito dele! Estava se divertindo. Bem, tudo bem.

— O problema é que os slimes se espalharam demais. Trinta por dia não resolve.
— Quê? Já estou cansado disso!
— Mesmo cansado, você deve continuar.
— Tá bom...

E assim, depois de quatro dias enfrentando slimes, finalmente veio o dia de descanso.

— Vamos lá, caçar alguns slimes!

Falco parecia animado. Não havia como evitar. Suspirei e fui até o quarto.

— Hã? O quarto? — ele perguntou, confuso.

Voltei trazendo um barbante para improvisar um cinto. Amarrei-o firme, enchi o balde de água e prendi dois gravetos e o punhal na cintura. Em seguida, encarei Falco. Não precisava falar muito; meus olhos diziam: já fiz tudo o que podia aqui dentro, agora vamos para fora. Ele entendeu e me seguiu.

Lá fora, peguei um galho comprido encostado na parede e me preparei. Falco me olhava com dúvida, mas logo começou a rir.

— Você está... igual a um pescador! Hahaha!

Antes que pudesse rir mais, acertei sua perna com o galho.

— Ai! Shou, cuidado! Não me bata com isso! Aí, ai... boa postura de espada, Shou. Você daria uma ótima caçadora... ai!

Meus golpes eram rápidos e certeiros. Falco ficou impressionado. Quando criança, ele também caçava slimes, mas não tinha tanta facilidade. Naquela época, a diversão era competir com os amigos para ver quem desviava de mais ataques ácidos.

Eu, porém, sempre agia com cautela. Não usava magia. Matava, recolhia a pedra mágica com os gravetos e jogava no balde. Fim.

De fato, não havia tantos slimes perto da cidade. Mas, desse jeito, alguém poderia viver apenas caçando-os. Ainda assim, pensei, ninguém vive só de slime.

— Ei, é o Leon.

— Falco, tem alguém junto dele — avisei.

Minha visão já estava de volta, então conseguia ver longe. E, como caçador, Falco também via bem.

— Você tem razão... mas... aquele monge...?
— O que houve? Por que está nervoso?
— Eu não fiz nada errado, vai ficar tudo bem...
— Falco.
— O que foi, Shou?
— O que há?
— Aquele monge. É alguém importante na igreja. Acho que veio ver você.
— Ver... a mim?
— Afinal, você tem poder de cura.
— Oooh!

Finalmente!

 

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