Capítulo 09:: Um Sonho Distante
O instinto me dizia impossível.
No estado em que estou agora, não há como vencer um dragão.
Se eu lutar, no fim só me restará o caminho da morte.
Meu instinto grita para que eu fuja.
Mas o dragão à minha frente já fixou seu olhar em mim.
Aqueles olhos enormes, com pupilas verticais diferentes das humanas, refletem a minha figura minúscula em comparação.
A diferença de tamanho entre nós é de várias, dezenas de vezes.
Devemos estar separados por algumas dezenas de metros, mas sinto que essa distância não significa absolutamente nada.
Como derrotar uma criatura tão colossal?
Corto o fluxo de energia vital que vinha usando para me manter em voo ascendente.
Então, obedecendo à gravidade, meu corpo começa a cair.
O dragão me observa, mas não dá sinais de atacar!
De repente, abre a boca.
Sem aviso algum, escancara aquela bocarra capaz de me engolir inteiro.
E dentro dela, vejo algo.
No instante em que percebo que alguma coisa está prestes a ser expelida, aquilo é lançado de sua boca.
Algo negro.
Vem direto em minha direção.
É rápido demais para que eu consiga distinguir o que é, mas seu tamanho supera o do meu corpo.
E avança numa velocidade que torna impossível desviar.
Vai acertar. Inevitavelmente.
Se for algo sólido, não será apenas um ferimento grave.
O impacto será mais brutal que ser atropelado de frente por um caminhão.
Meu corpo jamais resistirá a tal choque — não restarão mais que pedaços de carne.
Já era...!
Com esse pensamento, fecho os olhos com força.
Foi um reflexo. Quem, diante de algo gigantesco prestes a atingi-lo, desejaria observar até o fim?
Ah... minha vida não, minha existência como pássaro foi curta demais.
Fiquei feliz por poder voar como uma ave, mas meu maior sonho continuará inatingido:
voar sob um céu azul e límpido, contemplando uma paisagem infinita.
Era o que eu queria... mas não consegui.
Ainda assim, alcancei o objetivo da minha vida anterior.
Não pude fazê-lo ao lado do meu pai, como queria, mas consegui ver montanhas, florestas e até o mar.
Uma meta que deveria ter sido impossível, já que minha vida havia se apagado na existência anterior.
Talvez só isso já fosse suficiente... querer mais seria puro egoísmo.
Se eu pudesse renascer outra vez, queria ser um pássaro de novo.
Desta vez, um pássaro comum, para voar no céu azul e imenso.
Ou então, queria nascer de novo como filho do meu pai e da minha mãe.
Mas não doente desta vez e sim saudável.
Ir à escola, fazer amigos, brincar com todos eles.
Ah... quando a morte se aproxima, tudo se transforma em arrependimento...
...Hã?
Fechei os olhos já faz um tempo, mas nada aconteceu.
Pela velocidade daquilo, já deveria ter me atingido.
Com cautela, abro os olhos que mantinha cerrados.
E o que vejo diante de mim é uma massa de nuvens negras.
O quê? Cadê o dragão?
E aquele enorme objeto negro?
Olho ao redor.
Parece que, ao cortar meu fluxo de energia vital, apenas me entreguei à gravidade e continuei caindo.
Por isso agora estou diante dessa camada de nuvens escuras.
Será que o dragão apenas me observou cair?
Mesmo olhando para cima, ou ao redor, não vejo sinal algum dele.
Mas então... o que era aquele objeto negro?
Eu tinha certeza que ia ser atingido, e no entanto, nada aconteceu.
Não pode ser que eu tenha conseguido desviar daquilo com tamanha velocidade.
O que terá acontecido enquanto meus olhos estavam fechados?
Enquanto caio, perdido nesses pensamentos, percebo que atravessei a camada de nuvens.
Acima de mim ainda paira o céu carregado e escuro; ao longe, vejo o mar turvo.
E, abaixo, a ilha onde estava antes.
Será que estou seguro? Será que o dragão não me seguiu mesmo?
Olho para a direita, para a esquerda, e por fim para trás.
Então percebo: algo emerge das nuvens negras, ao longe.
Pensei que fosse o dragão, mas é bem menor do que o que vi.
Esforço meus olhos de ave, agora mais aguçados, para distinguir o que é.
Não é negro, mas castanho-escuro.
Na verdade... é uma rocha.
Um rochedo de uns dois metros, bem maior que eu, despenca das nuvens escuras e mergulha no mar, erguendo um estrondo.
Então o dragão cospe... pedras?
Sempre achei que dragões soltassem fogo, mas neste mundo parece haver dragões que lançam rochedos.
Entendi que aquilo foi lançado contra mim. Mas por que não me acertou?
Eu tinha certeza de que seria atingido.
Se tivesse sido, não estaria inteiro agora.
Não faz sentido...
A única certeza que me resta é que voar livre sob um céu azul e radiante ainda está muito, muito distante do meu alcance.
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