24 de set. de 2025

A princesa mimada quer evitar a guilhotina - Capítulo 03

 Capítulo 03:: Uma Voz Familiar

“O que é isso?”

“É… é um ensopado de legumes da estação…”

A maneira como o chef respondeu sugeria que ele estava escondendo algo. Mas Mia não se deixaria enganar.

“Estou perguntando que vegetal é este.”

Ela falou, aproximando a colher do rosto do chef. Havia diferença de altura entre eles, então Mia esticou os braços e ficou na ponta dos pés.

“De fato, são tomates yellowmoon, Vossa Alteza.”

O chef respondeu só depois de perceber que Mia não recuaria. As criadas ao redor estavam visivelmente preocupadas.

“Mesmo? Isso… isso é um tomate yellowmoon?” Mia olhou para ele incrédula e, com a mão tremendo, levou a colher à boca. Um azedinho refrescante se espalhou assim que o sabor tocou a ponta da língua. Havia uma leve doçura escondida ali. Os legumes, cozidos na medida certa, se desmanchavam na boca, deixando um acabamento maravilhoso…

O sabor delicado, tão diferente do que ela lembrava, abalou as emoções de Mia.

Entusiasmada, ela pegou outra colherada. O ensopado derretia na língua, liberando um sabor rico, e o pão tinha uma suavidade adocicada.

“O pão sempre foi tão macio?”

Sua voz trêmula murmurava. Então percebeu que lágrimas escorriam por suas bochechas.

“Huh, Vossa Alteza, não gostou? Houve algo errado no meu preparo…?”

O chef entrou em pânico.

Mia, com a boca cheia, tentou responder, mas a voz não saía. Além disso, começou a engasgar, e gesticulou desesperadamente. Após um comportamento nada digno de princesa, conseguiu se acalmar quando uma das criadas trouxe água.

“Eu gostei, chef. Suas habilidades são admiráveis.”

Mia sorriu para o chef nervoso.

“É uma honra receber seu elogio, Vossa Alteza. Mas aquele ensopado foi preparado para realçar o sabor natural dos ingredientes. Então o mérito não é todo meu.”

“É mesmo? Mas esses tomates yellowmoon… Não deveriam ser mais esverdeados e amargos?” Ela se lembrou do que foi obrigada a comer na prisão: duros, amargos e com gosto horrível.

“Ah…” O chef deu um sorriso amargo. “No caso dos yellowmoon, se você os ferve de qualquer jeito, podem ter um gosto assim. Porém, os que preparamos para Vossa Alteza foram cozidos por três dias. Qualquer um pode prepará-los, desde que preste atenção ao calor, entende?”

“…Três dias? Mas se leva tanto tempo, poderíamos simplesmente não comê-los.”

“Não posso fazer isso, Vossa Alteza. É nosso dever como súditos proteger a saúde da família imperial.”

O chef colocou a mão no peito e fez uma reverência profunda. Antes, Mia considerava sinais de deferência como algo natural. Mas não era. Após a revolução que derrubou o império, ninguém se importava com ela, nem prestava respeito. Agora ela entendia isso, então sorriu suavemente e disse:

“Você é muito atencioso. Saiba que sou imensamente grata por seus esforços.”

“Huh…?”

Ao ouvir a gratidão sincera de Mia, o chef ficou em choque, com a boca aberta. Recuou dois passos instáveis. Nunca imaginara que uma princesa tão egoísta pudesse proferir palavras tão gentis.

…A essa altura, já era óbvio como Mia costumava se comportar.

O chef a fitava com um ar de perplexidade, como se tivesse acabado de ver uma bruxa cruzando o céu.

“Eu… eu… estou muito honrado, Vossa Alteza.”

Finalmente, as palavras saíram. Ele coçou o queixo, envergonhado.

“Bem, também é uma questão de custo. Os alimentos preparados hoje eram de qualidade tão fina que equivalem ao salário de um mês de uma pessoa comum.”

“É mesmo?”

Conversas sobre custos e preços nunca fizeram muito sentido para Mia. Desde pequena, foi criada como uma princesa mimada, capaz de conseguir qualquer coisa apenas com um olhar. Não se interessava por quanto custava sua alimentação ou seu sustento, nem pelo salário do povo comum.

Então, naturalmente, não se importou com as palavras do chef. Ou ao menos deveria ser assim… mas…

Você tem ideia de quanto custa alimentar vocês, a Família imperial?

Uma voz sarcástica ecoou de repente em sua mente. Assustada, Mia olhou ao redor.

Que raios das luas celestes… quem foi agora?

Era uma voz familiar… vinda de sua memória…


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário